Tuesday, August 22, 2006

Representação Social e Meio Ambiente

Representação social e meio ambiente

Segundo o Professor Marcos Reigota (1995) o estudo das representações sociais remonta ao século passado, tendo como precursor o sociólogo francês Èmile Durkheim.
Em O Suicídio, Durkheim propõe-se a analisar a influência das religiões sobre o suicídio. Graças ao exame de dados estatísticos que se referem principalmente à taxa de suicídio de diferentes populações européias de religião protestante ou católica, chega à conclusão de que, quanto mais fraca é a coesão religiosa, mais forte é a tendência para o suicídio. Durkheim analisa ainda as representações sociais como emanadas da consciência coletiva, não tendo por isso, sigificancia nas atitudes do indivíduo.
O indivíduo pensa, age, se relaciona, através de uma consciência coletiva que emana da sociedade como um todo, o autor chega mesmo a separar o campo do que é social e do que é psicológico, deixando para a esta última à análise das representações individuais.
Segundo Reigota, este seria o marco inicial do que hoje se denomina, em psicologia social, de "teoria das representações sociais", pois, é a partir dos estudos de Durkheim que Serge Moscovici vai, em 1961, desenvolver o conceito de representação social, ou seja, a partir desse autor, as representações sociais passam a ter maior importância analítica do que possuía até então.
No contexto das propostas de Moscovici na década de 70, vários outros autores passam a se interessar pelo tema das representações sociais surgindo, então, uma série se estudos sobre a temática, como por exemplo, Jodelet, que foi orientanda do próprio Moscovici, Angela Arruda, Marcos Reigota, entre outros.
Na década seguinte o conceito se solidifica passando a constituir-se em referência obrigatória para estudos sobre temas contemporâneos, inclusive sobre Meio Ambiente, destacando-se aqui os autores Marcos Reigota e Angela Arruda, para citar apenas nomes nacionais.
Como ecologia, meio ambiente e desenvolvimento, a partir das conferências de cúpula e dos movimentos ambientalistas, desde a década de 70 até hoje, tornaram-se conceitos amplamente divulgados, utilizados e discutidos, o estudo das representações sociais sobre estes temas têm-se verificado de ampla e profícua produção.
Reigota (1995) que afirma que, por ser difuso e muito variado, meio ambiente e, principalmente, Educação Ambiental, deve ser considerada como "representação social".
Neste sentido, Sorrentino (1998) divide em quatro grandes correntes as atividades em educação ambiental, sendo elas: a "conservacionista"; "educação ao ar livre", "gestão ambiental" e "economia ecológica". Segundo este autor, a divisão (ou classificação) dessa forma se dá devido aos objetivos educacionais de cada enfoque.
Segundo Sorrentino, a primeira estaria mais presente nos países do primeiro mundo e caracteriza-se pela preocupação de muitos ecologistas com os problemas ambientais e as reflexões sobre as causas e conseqüências da degradação ambiental e para o engajamento em movimentos de "gestão ambiental". Este tipo de enfoque chega ao Brasil a partir da atuação de entidades conservacionistas. A preocupação destes se dá também pelas discussões em torno dos impactos sobre a natureza causados pelos modelos de desenvolvimento. A Segunda corrente mencionada por Sorrentino diz respeito aos adeptos do naturalismo, caracterizados pelas caminhadas ao ar livre, esportes radicais, espeleologia, ecoturismo, montanhismo e escotismo. Este enfoque trata a natureza como "santuário" dissociando os problemas ambientais dos problemas sociais, econômicos e políticos. A terceira corrente citada possui as raízes mais antigas na América Latina, segundo o autor, em virtude das disputas democráticas e da história de resistência aos regimes autoritários. A discussão do enfoque da "gestão ambiental" se dá no embate contra a poluição e todos os problemas resultantes da forma predatória de exploração do ambiente e do ser humano. Este tipo de enfoque também sugere a participação comunitária na administração dos espaços públicos e na escolha das formas de utilização futura dos recursos.
Finalmente, a quarta corrente assinalada por Sorrentino, diz respeito ao enfoque da "economia ecológica". Esta se desenvolve no eixo das discussões iniciadas por Ignacy Sachs sobre "ecodesenvolvimento" e "O Negócio é Ser Pequeno" de Schumacher, na década de 70 ganhando novo impulso na década seguinte a partir das publicações de organismos internacionais tais como "Nosso Futuro Comum" e "Nossa Própria Agenda". Segundo Sorrentino é nesta corrente "ambientalista" que se encontram as duas vertentes que "darão a tônica do movimento ambientalista neste final de século e, consequentemente, das educações ambientais a elas associadas: 'desenvolvimento sustentável' e 'sociedades sustentáveis'. A primeira, aglutinando empresários, governantes e uma parcela das organizações não governamentais, e a segunda aglutinando aqueles que sempre estiveram na oposição ao atual modelo de desenvolvimento e que acreditam que a primeira corrente é só uma nova roupagem para a manutenção do 'status quo'."(Sorrentino, 1998:29)
É ainda nesta segunda vertente, diz o autor, que se encontram as características que definem as identidades das entidades e organizações a ela associadas, ou seja:
"O propósito convergente de construírem uma sociedade mais justa, igualitária e ecologicamente equilibrada; compartilhar da premissa de que o respeito à natureza é inalcançável num quadro de desrespeito e aviltamento do ser humano que a integra e, convicção comum de que, para se chegar a essa sociedade justa e ecológica é necessário mudar o sujeito do desenvolvimento brasileiro, colocando-se o povo com autor e gestor do seu próprio projeto de modernidade."(idem. P, 29)
Por outro lado, os estudos sobre representação social do meio ambiente têm seguido a linha da psicologia social definido-se, em muitos deles, três possíveis formas de ver e representar o meio ambiente. Segundo Marcos Reigota (1995) três diferentes tipos de representação social do meio ambiente são identificados entre professores de escolas públicas de São Paulo: a naturalista, a globalizante e a antropocêntrica
Se na primeira os aspectos enfatizados são os da natureza, misturando-se conceitos ecológicos de habitat e ecossistemas, na segunda observa-se as relações de reciprocidade entre a sociedade e a natureza. Na terceira e última, a relação está na utilização (ou utilidade) dos recursos naturais para a sobrevivência do homem/mulher.
Embora seja a forma "globalizante" a que inclui o homem como parte do meio ambiente, esta não privilegia a associação entre os aspectos "naturais" e "sociais" da relação.
O autor conclui que o meio ambiente é compreendido de diferentes formas entre professores e, ainda, é dependente da especialização e origem geográfica destes. Comparando-se este trabalho com o de Sorrentino, podemos relacionar as três formas de representar o meio ambiente destacadas pelo primeiro com as quatro correntes ambientalista dadas pelo segundo, sendo que assimilamos as duas primeiras (conservacionista e educação ao ar livre) numa mesma e única corrente, que se relaciona com a representação dada por Reigota como naturalizante, i.é., que considera a natureza como algo intocável e que deve ser preservado da ação destruidora do homem, com algumas variações.
Noutro estudo, realizado por Angela Arruda (1993) na França com alunos de ecologia, agronomia e ciências humanas, o foco era levantar as representações sobre a questão ambiental relacionada com o desenvolvimento. A tese da autora era de que, dependendo da origem geográfica de cada aluno, a forma de representar o meio ambiente diferenciar-se-ia. Os alunos de ecologia, curso oferecido pela UNESCO, e os de ciências humanas, eram originários da mesma região geográfica (África, Sudeste Asiático e América Latina) e os de agronomia eram franceses. O interesse de Arruda era o de verificar a influência exercida pela origem geográfica, cultural e da formação profissional sobre as representações que faziam sobre o meio ambiente nestes estudantes.
Os resultados demonstraram que os três grupos possuíam preocupações comuns, relacionadas com o consumo, poluição, questões energéticas e às atividades humanas prejudiciais ao ambiente, como por exemplo, o uso inadequado da terra, desmatamento, destruição de espécies e guerras. Mesmo com a igualdade das preocupações havia alguma distinção, pois estas diferenciavam-se na distribuição das respostas e não estavam relacionadas com a origem geocultural dos respondentes, mas sim, com relação à sua formação profissional ou universitária.
Segundo o estudo de Arruda, os estudantes de ciências humanas possuíam concepção mais aproximada com a da comunidade em geral, por outro lado, os estudantes de agronomia, viam a ecologia como ciência independente e os alunos de ecologia, enfatizavam seu caráter interdisciplinar. A autora identificou ainda que em nenhuma das respostas, de qualquer dos grupos, inclui-se o homem como parte da natureza.
Outros trabalhos foram realizados e estão sendo realizados sobre o tema. Destaco, Silveira (1997) com crianças de 11 a 13 anos de idade em escolas públicas de Campinas, interior paulista e Serrão, (1998) sobre a relação sociedade e natureza, na UFRJ.
Algumas outras pesquisas em andamento puderam ser mapeadas, no entanto, foge-nos ao propósito, no momento, um maior aprofundamento sobre a questão nessa parte deste projeto.
No entanto, podemos observar que, no que tange à teoria das representações sociais, e sobre meio ambiente, parafraseando Reigota
“muitas são as representações sobre meio ambiente e por tal, o conceito de meio ambiente torna-se difuso e variado, como também o conceito de educação ambiental, o que faz com que as práticas pedagógicas dos professores envolvidos com a questão são, muitas vezes, influenciadas pelas suas representações, concepções, sobre meio ambiente.”

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